sexta-feira, 13 de junho de 2008

OBJETIVOS DO BRASIL RIBALTA REAL

chegado a Portugal

O tempo de padecer,

Se te oprime a cruel França

Sorte melhor hás de ter".

"Quem oprime os portugueses,

Quem os rouba sem ter dó?

É esta tropa francesa

De quem é chefe Junot".

Versos populares no Rio de Janeiro


No corrente ano de 2008, comemoramos os duzentos anos da transferência da Coroa Portuguesa para o Brasil. A importância de tal fato deve ser exaltada e relembrada a cada momento, pois vivemos cultural, social e politicamente as conseqüências da longa viagem que a Família Real de Portugal fez em 1808. Nas embarcações, D. João VI também trouxe uma nova herança cultural, novos hábitos alimentares e higiênicos, novas noções de urbanização, novas tendências arquitetônicas, renovações nas áreas científicas e transplantou novas características políticas no Brasil. Um dia, nosso país foi palco de uma magnífica peça teatral, a vinda da Família Real. Um dia, nosso Brasil foi uma Ribalta Real.

A VINDA DA CORTE PORTUGUESA PARA O BRASIL

No início do século XIX Napoleão Bonaparte era imperador da França. Ele queria conquistar toda a Europa e para tanto derrotou os exércitos de vários países. Mas não conseguiu vencer a marinha inglesa. Para enfrentar a Inglaterra, Napoleão proibiu todos os países europeus de comercializar com os ingleses. Foi o chamado Bloqueio Continental. Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe regente Dom João. Como Portugal era um antigo aliado da Inglaterra, Dom João ficou numa situação muito difícil: se fizesse o que Napoleão queria, os ingleses invadiriam o Brasil, pois estavam muito interessados no comércio brasileiro; se não o fizesse, os franceses invadiriam Portugal.


A solução que Dom João encontrou, com a ajuda dos aliados ingleses, foi transferir a corte portuguesa para o Brasil. Em novembro de 1807, Dom João com toda a sua família e sua corte partiram para o Brasil sob a escolta da esquadra inglesa. 15 mil pessoas vieram para o Brasil em quatorze navios trazendo suas riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo que puderam trazer. Quando o exército de Napoleão chegou em Lisboa, só encontrou um reino abandonado e pobre. O príncipe regente desembarcou em Salvador em 22 de janeiro de 1808. Ainda em Salvador Dom João abriu os portos do Brasil aos países amigos, permitindo que navios estrangeiros comerciassem livremente nos portos brasileiros. Essa medida foi de grande importância para a economia brasileira.


De Salvador, a comitiva partiu para o Rio de Janeiro, onde chegou em 08 de março de 1808. O Rio de Janeiro tornou-se a sede da corte Portuguesa. Várias transformações marcaram o cenário político-social da colônia entre elas o Decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas, crescimento populacional devido ao grande número de nobres e funcionários da corte portuguesa e a criação do Banco do Brasil contribuiu para a aceleração do desenvolvimento.
Geocities-Família Real
Revista Veja-Edição especial
MultiRio-Embarque

POSTADO PELOS ALUNOS EDGAR E MARONÊS

As condições da Viagem

Quem acredita que a família real decidiu vir ao Brasil na última hora está completamente enganado.A salvação da Corte foi o explorador Martim Afonso de Souza, que em 1532 retornou a Colônia na América e disse ao rei dom João III: “Doidice seria um rei viver na dependência de seus vizinhos, podendo ser monarca de outro maior mundo”.Dom João III elaborou então, um plano de emergência, caso Portugal fosse invadido por estrangeiros e a Corte seria transferida para a Colônia Brasileira.

Dom João VI estava muito preocupado se Napoleão invadisse, no entanto, não queria viajar (ou fugir) ao Brasil e adiou ao máximo que pode.

Na madrugada de 24 para o dia 25 de novembro, Dom João VI ordenou o embarque.Funcionários, pajens e camareiras viravam noites esvaziando palácios e empacotando pratarias e jóias, tirando quadros das paredes, recolhendo todo ouro e prata. Ao total, eram 700 carroças que começavam a circular pela cidade, eram carregadas de livros, dinheiro, documentos e todos utensílios e objetos citados antes, além de muita coisa não descrita.A circulação das pessoas e os carregamentos eram realizados debaixo de muita chuva, vento e com muita lama.

Assim, a corte embarcou no dia 29 de novembro, porém, seria no dia 27, mas devido aos fortes ventos, foi adiada.A esquadra portuguesa era composta por 19 navios e encontrou-se com a frota britânica, que faria a escolta até o Brasil (13 embarcações).As condições da viagem eram muito precárias, abaixo descreveremos como foi.Próximos ao Equador, entraram em uma zona de calmaria e permaneceram quase 30 dias parados, atrasando a viagem, e deixando todos revoltados.

Os navios partiram todos juntos, mas pela manhã, já estavam espalhados por causa de uma tempestade.Os próximos dias também foram assim, com ventos e chuvas abundantes, tornando a vida nos navios incômoda, uma vez que a Corte queria chegar o quanto antes no Brasil.Além de tudo, havia uma superlotação que mal tinham espaço para se deitar no convés, e as senhoras só tinham as roupas do corpo.Colchonetes eram um privilégio dos nobres, e para os demais, não haviam cabines, camas e muito menos privacidade e tinham apenas o espaço para dormir e estar,era muito apertado.

Água escassa e de má qualidade, a comida era carne salgada e biscoitos que já estavam contaminados por vermes.Animais vivos também faziam parte da embarcação para garantir leite, ovos e carne fresca, enfim, condições de higiene péssimas.Surtos de piolhos, ratos abundantes, aumentavam o risco de epidemias.Distúrbios intestinais causados pela falta de alimentação necessária.Insolação e desidratação eram constantes em dias de muito sol, além de enjôo, medo e mau-humor.

Curiosidade:
Na viagem, não havia banhos, porém o rei e Dona Maria tomavam banho de mar um pouco mais quente como forma de aliviar problemas de saúde.Então o uso do mar no Brasil surgiu como tratamento médico, e a idéia de ir ao mar como lazer surgiu com a elite burguesa na segunda metade do século XIX.Até o século XVIII o mar era local de morte, angústia e sofrimento, pois quando acontecesse uma morte no mar, os corpos eram jogados ali mesmo.

TEXTO ESCRITO PELA ALUNA JÉSSICA NUNES

Fontes utilizadas,capturadas em 24.08.2008

Super Interessante
Revista Veja-Edição especial
Wikipédia-Viagem da Família Real
Laurentino Gomes-Clique,é uma animação da viagem.
Globo-Condições da viagem
Colégio Universitas-Condições da Viagem
Portal Ciência e Vida


SE ELES NÃO TIVESSEM VINDO

Dom João estaria “con la cabeza perdida casi del todo”?

Desde o início da Revolução Francesa, em 1789, e, sobretudo, desde a execução de Luís XVI em 1793, o ambiente nas cortes européias era de muita aflição. Em Portugal e na Espanha, era também de temor, devido à ligação familiar de seus soberanos com os Bourbon da França. Este enlace vinha desde Felipe V (1683-1746), neto de Luís XIV, que dera início ao reinado dos Bourbon na Espanha. Em Portugal, a presença dos Bourbon era representada por Carlota Joaquina, mulher do príncipe regente. Guilhotinado Luís XVI, Carlos IV, rei da Espanha, e seu genro, o príncipe regente português D. João VI declararam guerra à França. No entanto, a potência espanhola não era mais a mesma como nos tempos de Felipe II. Apenas dois anos depois, celebraria com a França Revolucionária os tratados de paz de Basiléia, que obrigaram Portugal a recuar também.

Em 1789, Napoleão Bonaparte obtém vitórias na Itália e no Egito e é eleito primeiro cônsul. A Europa entra em pânico. Uma após outra, Áustria, Prússia e Rússia, as principais potências, foram derrotadas e forçadas a assinar tratados muitas das vezes humilhantes. Somente a Grã-Bretanha se mantinha de pé, protegida pela geografia e pela força de sua Marinha de Guerra. Em 1801, o único país continental que ainda não tivera rompido com a Coroa britânica, pressionado por Napoleão, era a velha metrópole, Portugal. A corte portuguesa estava agora ameaçada em terra por Napoleão e no mar, pela Grã-Bretanha.


O príncipe regente, Dom João, angustiava-se, uma vez que não fora educado para governar e não gostava de governar. Tornara-se herdeiro forçado do trono após a morte do irmão mais velho, D. José, em 1788. Naturalmente pacífico e tímido, hesitava diante de decisões difíceis. E nada mais difícil do que aquilo que o desafiava. Sua própria corte dividia-se entre simpatizantes dos ingleses como D. Rodrigo de Sousa Coutinho, primeiro conde de Linhares, e dos franceses, como Aires José Maria de Saldanha Albuquerque Coutinho Matos e Noronha, segundo conde da Ega, e Antônio de Araújo e Azevedo, primeiro conde da Barca. D. João tentava não desagradar a nenhum dos dois lados. Mas um dia teria que tomar uma decisão.
Em 1801, a França convenceu a Espanha, sua aliada, a assinar um ultimato conjunto exigindo de Portugal o rompimento com a Grã-Bretanha.


No mesmo ano, Portugal foi forçado a assinar um tratado humilhante em Badajoz, obrigando-se a fechar os portos e o território à Grã-Bretanha. As As vitórias de Napoleão se tornavam freqüentes, agravando a situação do governo português. Araújo e Azevedo tornou-se ministro dos Negócios Estrangeiros em 1803, quando foi assinado o Tratado de Madri, que estabelecia a neutralidade entre França, Portugal e Espanha.
No ano seguinte, o general Andoche Junot foi nomeado ministro francês na corte portuguesa. Carlota Joaquina tentou dele se aproximar objetivando selar a paz entre os dois países. Dom João estava apavorado, entrando em profunda depressão em 1805, inclusive isolando-se entre os frades do convento de Mafra. A loucura da mãe, D. Maria I, fazia com que surgissem os piores receios sobre a natureza de sua doença. O isolamento do regente incentivou a Conspiração do Alfeite (1805-6). A 13 de agosto de 1806, a própria Carlota Joaquina escreveu à mãe, Maria Luísa, rainha de Espanha, dizendo que D. João estava “con la cabeza perdida quasi del todo” e pedindo uma intervenção em favor dela e de seus filhos.

No ano seguinte, Napoleão, após ter terrotado os russos, na batalha de Friedland, volta seus olhos novamente para Espanha e Portugal. Em agosto, intimou Portugal a cortar totalmente as relações com a Grã-Bretanha, aderir ao bloqueio continental e seqüestrar os bens dos súditos britânicos, ao mesmo tempo em que concentrava tropas na fronteira com a Espanha, sob o comando de Junot. A corte de Lisboa continuou o jogo duplo entre franceses e ingleses. Em setembro, aderiu ao bloqueio continental, que fechava todos os portos europeus ao comércio com a Inglaterra. No mês seguinte uma celebração secreta coloca em pauta a possível transferência da corte para o Brasil e a abertura dos portos coloniais.


França e Espanha assinaram o Tratado de Fontainebleau, decidindo pela partilha de Portugal. Em outubro, Napoleão mandou Junot entrar na Espanha com 28 mil homens, a caminho de Lisboa. Jogando uma última cartada, D. João decretou a prisão dos súditos britânicos e o seqüestro de seus bens. O ministro britânico Lord Strangford fechou a legação, deixou Lisboa e recolheu-se aos navios da esquadra britânica ancorada perto da foz do Tejo.
Então no dia 25 de novembro realiza-se uma tensa reunião do Conselho de Estado para decidir sobre o que fazer. Ficar ou não ficar era a questão. Ficar significava correr o risco de humilhação da família real, de retaliação dos britânicos, que em setembro já tinham bombardeado Copenhagen, e de perda do Brasil, que representava 80% do comércio externo de Portugal com suas colônias e 60% de todas as exportações portuguesas. Fugir, além de humilhante, significava trair os súditos, abandonar o reino aos inimigos, enfrentar a ira da população já agitada de Lisboa, incorrer ainda mais no ódio da esposa, além de ter que enfrentar os inúmeros perigos de uma viagem marítima de quarenta e cinco dias com toda a família, milhares de cortesãos e grande quantidade de valores.


Muito bem, vamos parar agora para uma ligeira mudança de planos. Sim, nesse momento Dom João tem duas opções e só pode escolher uma: partir ou ficar. A história de como seria se a Família Real viesse para o Brasil, todos nós conhecemos, afinal, ela é influência direta da nossa atual realidade política, social e cultural. E se eles não tivessem vindo? Se a Família Real não tivesse vindo para o Brasil, muito provavelmente a mesma teria sido humilhada e o frágil Dom João teria enlouquecido com a vitória napoleônica sobre Portugal. Quanto ao Brasil, sim, conflitos em busca de poder, de lucros, ou ainda de abolição da escravatura, seriam – como foram – inevitáveis.
As influências em termos de hábitos, cultura, arquitetura, alimentação, vestimenta, trazidas pela Corte portuguesa, é claro, não teriam passe. E aí vem a pergunta: a abertura dos portos, a criação do Banco do Brasil, a criação da Academia de Belas Artes, por exemplo, jamais existiriam? Isso não se pode afirmar categoricamente, visto que outras instituições que suprissem as necessidades e acordassem com a realidade da população residente no Brasil, ou dos fortes politicamente, seriam criadas. As circunstâncias da não vinda da Família Real, poderiam ter conduzido o Brasil a situação muito diferente da atual; ou ainda mesmo gerar organização política-social bem próxima daquela em que vivemos. Existem sentimentos e interesses inerentes ao homem, que acabam por produzir bons e maus sujeitos, exemplares e execráveis personalidades numa comunidade. Burocracia, vertente para os arranjos políticos e tolerância com a corrupção que embarcaram na longa travessia de 1808, poderiam ter vindo de outra forma, poderiam ser mais amenas ou mais acentuadas; não se sabe. Mas se Dom João não estivesse “com la cabeza perdida”, a parte boa e bela da nossa herança cultural estaria, esta sim, infelizmente perdida.

TEXTO ESCRITO PELA ALUNA GEORGIA



Abaixo segue a reflexão do historiador José Murilo de Carvalho. Ele é professor titular da UFRJ e autor de Dom Pedro II: Ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras, 2007).

“ Contrariando a opinião dos conselheiros, o príncipe regente D. João tomou a mais importante decisão de sua vida. Resolveu ficar.O episódio dramático ficou conhecido na história portuguesa como o Dia do Fico. As conseqüências da decisão são conhecidas. Os franceses levaram a família real para o exílio na França, permitindo que Carlota Joaquina voltasse para a casa dos pais na Espanha, e passaram a governar com o apoio de seus amigos na corte portuguesa: o conde da Ega, cuja mulher se tornou amante de Junot, Araújo e Azevedo, o marquês de Alorna e outros.Pelo lado da Grã-Bretanha, Canning, ministro dos Negócios Estrangeiros, levando em consideração a longa história de amizade com Portugal, decidiu não bombardear Lisboa. Contentou-se em ordenar a Lord Strangford que confiscasse a esquadra portuguesa para que não caísse nas mãos dos franceses. Mas fez também o que mais lhe interessava: pôs em prática o dispositivo da convenção secreta de setembro que lhe abria os portos das colônias portuguesas, sobretudo do Brasil.O infortunado D. João não resistiu ao impacto dos acontecimentos e às agruras do exílio. Sua depressão agravou-se e o levou à morte em 1812. Um ano depois, seguia-o sua não menos desventurada mãe, a rainha D. Maria I. Na corte espanhola, Carlota Joaquina retomou suas confabulações políticas, mas por pouco tempo. Em julho de 1808, Napoleão forçou Fernando VII, filho de Carlos IV, a devolver o governo ao pai. Deste, exigiu que renunciasse em favor de seu irmão, José Bonaparte. A família real espanhola reuniu-se à portuguesa no exílio. Mas com o início da queda de Napoleão após a batalha de Leipzig, em outubro de 1813, Fernando VII foi libertado e regressou à Espanha com Carlota Joaquina. Mais hábil que o irmão, a princesa negociou com as cortes a sucessão ao trono espanhol, usando como chamariz a proposta de reunir as duas coroas, uma vez que era a legítima regente do trono português. Com o apoio de seus partidários em Lisboa, conseguiu concretizar a fusão, criando a União Monárquica Ibérica, uma retomada da União Ibérica de 1580. Mais de século e meio mais tarde, a Constituição espanhola de 1978 conferiu a Portugal o estatuto de Comunidade Autônoma da União Monárquica Ibérica. Enquanto tudo isso se passava na Europa, as colônias espanhola e portuguesa na América entraram em fase de grande turbulência. Desaparecida a fonte de legitimidade monárquica que por três séculos sustentara a unidade dos dois sistemas, as forças centrífugas se manifestaram e teve início o processo de desagregação. Cada vice-reinado, cada capitania-geral, cada audiência e até mesmo cada municipalidade julgou-se no direito de decidir a quem obedecer. Para abreviar a história, na América espanhola os quatro vice-reinados e quatro capitanias-gerais se tinham transformado, em 1830, em 16 repúblicas independentes, organizando-se todas pelo modelo norte-americano. Posteriormente, acrescentaram mais dois países, Cuba e Panamá. Na América portuguesa, as coisas não se passaram de modo muito distinto. Das 18 capitanias-gerais existentes em 1808, as de maior peso econômico movimentaram-se no sentido de construir a seu redor novos centros de poder político. Como no lado espanhol, a luta foi longa e marcada por guerras civis, rebeliões, repressões. O processo teve início, como não podia deixar de ser, em Pernambuco. Já em 1801, os participantes da Conspiração dos Suassunas tinham buscado o auxílio de Napoleão para se libertarem de Portugal. Com a prisão da corte portuguesa, voltaram à ação. Havia, no entanto, uma divisão básica entre os rebeldes. De um lado, os ideológicos do Areópago de Itambé (primeira loja maçônica do Brasil, fundada em 1796) e do Seminário de Olinda, padres em sua maioria, mais liberais, contrários à escravidão. De outro, os Suassunas e demais senhores de engenho, que não admitiam a abolição. Depois de muitas batalhas, criou-se a República dos Estados Unidos do Equador, que incorporava as capitanias vizinhas: Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. A escravidão foi mantida, adotando-se um dispositivo constitucional que previa futuras medidas abolicionistas. A transição mais tranqüila, ou menos tumultuada, verificou-se nas capitanias vizinhas à sede do vice-reino. Os antigos inconfidentes mineiros, apoiados em seus parentes paulistas, retomaram a luta independentista e negociaram com os comerciantes do Rio de Janeiro um pacto federativo. O esforço foi facilitado porque as tropas portuguesas haviam sido deslocadas pela Grã-Bretanha para auxiliar na luta contra a França na Península Ibérica. As unidades federadas adotaram o nome de República dos Estados Unidos do Brasil, mantendo-se o Rio de Janeiro como capital. A nova Constituição também manteve a escravidão. A capitania do Espírito Santo também aderiu à federação. Em 1930, em decorrência de seu rápido desenvolvimento econômico, São Paulo separou-se dos Estados Unidos do Brasil, constituindo a República Bandeirante. Mais trabalhosa e violenta foi a batalha na capitania-geral da Bahia. As “francesias” (idéias sobre a Revolução Francesa) já lá haviam chegado em 1798, quando inspiraram o que se chamou de Conspiração dos Alfaiates. Vieram sob a forma de livrinhos subversivos distribuídos pelo comandante Larcher, da fragata La Preneuse. Além disso, houvera em 1806 uma revolta escrava em Salvador, e outra mais séria se dera em 1809 no Recôncavo. Os remanescentes dessas revoltas e conspirações voltaram a agir após a deposição do regente. Mas o poder econômico estava nas mãos dos senhores de engenho do Recôncavo e dos grandes traficantes de escravos de Salvador. Após prolongada guerra civil e racial, venceram os mais fortes. A parceria comercial com potentados africanos foi fortalecida com a preciosa ajuda do baiano Francisco Félix de Souza, traficante de escravos em Ajudá. No final, criou-se o Reino Unido da Bahia e da Guiné, a que aderiu a capitania de Sergipe del Rei. Sobrevindo a partilha da África pelas potências européias no final do século XIX, dissolveu-se o Reino Unido, e a Bahia tornou-se uma república. Na capitania-geral de Rio Grande de São Pedro do Sul, a comunhão de interesses com a Banda Oriental, sempre receosa do expansionismo de Buenos Aires, levou à solução natural da união, resultando do acordo a formação da República dos Pampas, com capital em Montevidéu. A ela aderiu a capitania de Santa Catarina. O tráfico de escravos foi abolido e se deu logo início ao processo de gradativa abolição da escravidão. Finalmente, a situação mais complexa verificou-se na área do antigo Estado do Maranhão e Grão-Pará. Não contando com centro econômico hegemônico, a região envolveu-se em longo período de turbulência, o que provocou a intervenção inglesa. Só em 1850 é que se consolidou o novo Estado que herdou o mesmo nome do antigo, sob uma forma republicana de governo, mantendo-se a escravidão.Ao longo de todo esse processo de formação dos novos estados, a Grã-Bretanha esteve sempre vigilante para garantir o livre acesso aos mercados. Exerceu também constante pressão no sentido de interromper o tráfico de escravos, negociando tratados com cada um dos cinco novos países, com exceção do Estado do Maranhão e Grão-Pará, onde proibiu o tráfico logo após a intervenção.Diante dessa evolução da colônia portuguesa da América, fica-se a pensar sobre como teria sido seu destino caso o príncipe D. João tivesse optado por abandonar Portugal para fugir das tropas de Junot.”

Preto no Branco-Herança Cultural
Revista de História

POSTAGEM REALIZADA PELA ALUNA GEORGIA

A SOCIEDADE BRASILEIRA DO SÉCULO XIX



Ao desembarcar no Rio de Janeiro, a corte encontrou uma sociedade abandonada, tudo era extremamente sujo e sofriam com a falta de água, de higiene e de cultura. O Rio de Janeiro oferecia poucas distrações: as famílias ricas iam a espetáculos e freqüentavam bailes familiares, já os homens, reuniões de jogo.As atividades eram feitas em dia claro com a luz solar, já que vida noturna praticamente não existia devido à falta de iluminação.Nas procissões e nas festas religiosas, toda população da cidade participava,pois se tornaram pontos de encontro entre parentes e conhecidos que lá se reuniam para contar os fatos do dia e as últimas notícias.

Os anos após a chegada da Família Real Portuguesa no Brasil foi de intensa mudança. A vida social se aperfeiçoou e se elevou o nível padrão de vida, tudo isso pelo fato da grande influência dos hábitos de conforto, cultura e diversão trazida pelos portugueses. Para atender às exigências da família real, foi necessário construir novas casas, pois a população havia crescido em decorrência do número de acompanhantes (cerca de 15 mil) e pelo enorme fluxo migratório de portugueses que saíam do reino na esperança de melhores condições; assim apareceram residências isoladas, distantes do centro e junto a jardins e gramados. Modificaram-se também as mercadorias, que foram ampliadas; o transporte e o aumento de oportunidades educacionais.

A vida após a chegada da Corte se tornou muito agitada,porém, não foram somente boas mudanças; a vida cotidiana das famílias de homens livres, pobres e remediados tornou-se mais difícil por causa do aumento do preço dos materiais de construção, da valorização dos aluguéis e do aumento do preço dos imóveis além de ter também surgido discriminação por condições de vida oferecidas nos diferentes bairros e o aumento das disparidades sociais. Todas essas modificações na sociedade brasileira são perceptíveis nas obras do pintor Jean-Baptiste Debret que trabalhou no Brasil entre 1816 e 1831, período em que produziu grande quantidade de obras.Para saber mais sobre Debret, acesse
este conteúdo em nosso Blog.


Texto escrito por Jéssica Nunes.

Fontes Utilizadas:

Revista super interessante: Edição 251- abril/2008
PILETTI, Claudino e Nelson.História e Vida. 24 ed.São Paulo: Editora Ática,2000.
GOMES,Paulo;DE MOURA,Nelson; GANZALEZ,Alaíde.História Geral da Civilização Brasileira.3 ed.Belo Horizonte:Lê Editora,1976.

Abaixo,alguns personagens que circulavam pela cidade do Rio de Janeiro,representando a sociedade após a chegada da Corte:









Revista super interessante edição 251 abril/2008 Nelson Piletti e Claudino Pilette história e vida volume 1 editora ática 24 edição ano 2000 aulo miranda gomes,nelson de moura e alaíde inah ganzalez história geral da civilização brasileira livraria lê editora terceira edição ano 1976

Texto escrito pela Aluna Jéssica Nunes

O LUXO SOB A VISÃO DA POBREZA

O texto a seguir foi retirado da Edição Especial da REVISTA VEJA, março de 2008, e versa sobre a visão da população carioca diante da vinda da Família Real para o Brasil

"Por enquanto, é uma festa só. Os moradores de São Sebastião do Rio de Janeiro, que sempre abrem os braços para receber gente famosa, estão encantados com tantos príncipes, princesas e outros nobres recém-chegados à cidade. Pode haver até certo exagero no desejo de agradar, refletido em relatos como o do habitual cronista da cidade, Luiz Gonçalves dos Santos, padre e culto historiador que a verve popular apelidou de Perereca: "Ao som do estrondo das salvas, ouvido a léguas de distância, e do alegre repicar dos sinos das igrejas, o espírito de todos se elevou, e homens, mulheres, velhos e crianças correram pelas ruas, ansiosos para assistir à extraordinária chegada da esquadra real". A curiosidade e até a comoção, no entanto, foram verdadeiras quando o príncipe regente João, a princesa Carlota Joaquina, seus oito filhos e sua corte aportaram na baía da cidade. O primeiro ato do casal ao pisar em terra firme foi rezar diante do altar armado no cais e agradecer pelo fim da arriscada viagem. No Largo do Paço, arcos triunfais retratavam dom João entre nuvens, tendo a seus pés os súditos ajoelhados e recebendo frutos típicos ofertados por um nativo da terra – é uma alegoria, claro, mas sabe-se que pelo menos caju e pitanga, ambos de sabor embriagante, os portugueses já provaram. De lá, sob um pálio de seda vermelha, o príncipe e sua comitiva, acompanhados das autoridades locais, seguiram para a catedral. As ruas estavam forradas de areia branca e folhas aromáticas; as janelas e os balcões das casas, enfeitados com colchas de seda e damasco; a população lançava flores; um coral entoava hinos de louvor. Enfim, uma espécie de Carnaval, só que mais solene.

Ninguém aqui ainda está acostumado a lidar com a realeza, mas todo mundo pensava a mesma coisa: o que será que eles estão achando? É difícil decifrar pela expressão do príncipe, muito sério e composto, ou da princesa, com a habitual cara de brava. Mas não há quem chegue ao Rio de Janeiro e não se encante com o que vê, como os cariocas nunca se cansam de ouvir. A admiração começa logo na entrada da baía unanimemente considerada maravilhosa, pontilhada de ilhas e cercada de montanhas. Quando ouvem o nome da mais imponente, Pão de Açúcar, e a explicação (assim se chama o cone de açúcar que se retira das fôrmas usadas nos engenhos), todos concordam com a cabeça, sorriem e redobram os elogios. Embora já comece a correr o boato de que os portugueses não estão exatamente impressionados com a cidade em si, com suas casinhas modestas e ruas estreitas, onde nem andar de carruagem se pode. Está certo que o Rio não é nenhuma Paris – tem atualmente um décimo dos 600 000 habitantes da capital francesa. Mas oferece programas interessantes, como passear no jardim público à beira-mar, com seus quiosques, bancos de mármore, fontes e estátuas. Dá até para ir à noite, por causa das lanternas penduradas nas árvores.

Menos freqüentes e mais movimentados são os desfiles marítimos de navios enfeitados nas águas da baía, quase iguais aos de Veneza. Todo mundo sai para ver. Outra atração sazonal é a pesca da baleia. Na época em que elas aparecem por aqui, dezenas de barcos agindo coordenadamente as cercam, e muita gente acompanha a ação em terra. Um arpoador vai em pé na proa de cada barco para lançar o ferro pontiagudo. Por causa disso, já existe quem chame de ponta do arpoador uma das extremidades da selvagem e bela praia da freguesia de Copacabana. Há quem se compadeça dos animais, em especial quando, arpoados, jorram sangue e lutam bravamente pela vida. Recusam-se até a chamá-los de monstros marinhos. Para os espíritos mais sensíveis, o Rio oferece outras atrações. A Igreja da Glória provavelmente não se compara às catedrais européias, mas é cheia de graça, sem trocadilhos. Quem tem fôlego para subir o morro a pé é recompensado pela vista sublime. Para contemplar a cidade, o melhor é fazer outra escalada e chegar até a Matriz de São Sebastião, que recebeu o príncipe regente para o culto de ação de graças. Os recém-chegados precisam entender que o Rio não é pequeno – a paisagem natural a seu redor é que é enorme. O passeio mais rápido ao entorno da cidade logo os colocará no coração da mata luxuriante, com sua enorme variedade de pássaros, borboletas e macacos. Bem, eles logo descobrirão que é melhor não falar dos macacos. Das cobras, nem pensar.

Óleo s/tela Leandro Joaquim/Coleção Museu Histórico Nacional/Reprodução Paulo Scheuenstuhl
Pesca da baleia: atração provinciana e sonhos de um futuro cosmopolita na cidade governada pelo conde dos Arcos (abaixo)
Óleo s/Tela Franscisco Silva Romão/Associação Comercial da Bahia/Reprodução Xandó Pereira/XPImagens
Na condição de moradores da cidade que é a capital e também o porto mais movimentado do Brasil, os cariocas recebem mais informações do exterior e, com toda a justiça, querem ser considerados parte do mundo civilizado. Isso aumenta a expectativa pela chegada dos portugueses. Apesar das naturais resistências da colônia gigantesca, fadada a um destino maior, em relação à pequena e hoje alquebrada matriz, a transferência do príncipe regente e de toda a corte é reconhecida como um acontecimento capaz de provocar mudanças telúricas. A notícia chegou ao Rio há menos de dois meses, no dia 14 de janeiro, por rotas tortuosas (um barco que faz navegação de cabotagem pela costa brasileira ouviu de jangadeiros de Pernambuco que lá havia aportado um navio português avariado, o Minerva, que deveria preparar caminho na capital para a transferência da corte).

Devido à demora e ao inusitado da novidade, a burocracia local, comandada por Marcos de Noronha e Brito, o vice-rei, que por motivos óbvios deixou esse cargo, esfalfou-se nos preparativos. Agora chamado pelo título de família, o conde dos Arcos desocupou a própria casa, o Paço dos Vice-Reis, mais a vizinha Casa da Câmara e Cadeia. Aí se acomodaram o príncipe e a princesa (imagina-se seu desconforto – há anos não vivem juntos), seus filhos e centenas de damas e criados. Também requisitado, o convento das carmelitas abrigou a rainha Maria – mais calma, embora sempre tresloucada – e comitiva. Todos os edifícios foram reformados, caiados, pintados, forrados e munidos de passarelas de comunicação para que os fidalgos não ponham os pés na lama. De São Paulo e Minas Gerais vieram carregamentos de carnes, frutas, feijão, milho – esses dois últimos incomuns na dieta portuguesa. A série de festividades de boas-vindas vai até o dia 15, com a muito aguardada cerimônia do beija-mão. O Senado da Câmara do Rio de Janeiro consignou 4 contos de réis para as luminárias que decoraram o Largo do Paço no desembarque e outro tanto para bancar a iluminação em volta do agora palácio real, certo de que o momentoso evento entrará "nos anais da história portuguesa e na do gênero humano". Entre as medidas não tão populares, casas de padrão mais alto foram confiscadas para acomodar os figurões da corte – um PR (Príncipe Regente, ou, na versão popular, Ponha-se na Rua) pintado na fachada é o sinal para a família procurar outras acomodações. Proprietários abastados escondem sinais de riqueza e "empobrecem" de um dia para o outro, tentando escapar da ordem. Será um mau sinal se, para compensar, começarem a pensar em receber sinecuras do príncipe.

Passadas as festas, também será o caso de pensar quem vai pagar a conta dessa revoada de alguns milhares de pessoas – ninguém parou para contá-las direito –, entre nobres e plebeus, agora desprovidos de tudo. Novos edifícios terão de ser erguidos para alojar os órgãos públicos, e a própria família real precisará ser acomodada a contento. Em compensação, na área cultural o Rio de Janeiro com certeza vai se beneficiar tremendamente da presença da corte. Os livros da Biblioteca da Ajuda, esquecidos no cais de Lisboa no corre-corre da partida, já estão a caminho. As edições raras e outras preciosidades constituem um tesouro de conhecimento mais valioso do que qualquer bem material que a corte tenha trazido para o Brasil. Amante da música, o príncipe João não deixará de instalar aqui ao menos um teatro digno do nome. Causa ainda certa estranheza, num país que, para onde se olhe, é uma floresta só, o plano de criar um jardim botânico, um lugar onde se plantam árvores exóticas. Mas, se toda metrópole hoje tem o seu, o Rio de Janeiro também haverá de querer um. Dá até para sonhar com o tempo em que, além de lindo, o Rio será elegante, culto e cosmopolita. Somando a isso ruas limpas, governantes honestos, administradores competentes e funcionários impolutos, vai se tornar uma maravilha de cidade. "

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Postado pela Aluna Georgia

E COM D. JOÃO VI VEM A IMPRENSA!

Antes da chegada da família real no Brasil, a imprensa era basicamente um uso de nobres para se comunicar. No mesmo ano da família real chegar ao Brasil, D. João autorizou a Imprense Régia, sujeita a forte censura para impedir o aparecimento ou divulgação de qualquer coisa contra o reino, a família e os bons costumes. Ainda neste ano, foi criado o primeiro jornal brasileiro oficial: “A Gazeta do Rio de Janeiro”. Este publicava notícias sobre a natureza européia, documentos oficiais, as virtudes da família real, e também divulgava pontos a favor da família real e suas origens. Havia também jornais não oficiais. “O Correio Brasiliense” ou “Armazém literário”, de Hipólito José da Costa, maçônico foragido que redigia o jornal na Inglaterra e exportava por meio de contrabando para o Brasil, tinha mais de 100 páginas. Era vendido, em média, uma vez por mês. Um dos maiores exemplos do papel da imprensa na independência foi o “Revérbero Constitucional Fluminense”, escrito por Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa, em setembro de 1821. Em São Paulo, o primeiro jornal impresso só foi surgir em 1823; era o chamado “Farol Paulistano”. O “Diário do Rio de Janeiro” era um jornal um pouco diferente. Ele levava a neutralidade ao extremo. Após a independência, a imprensa viveu um período de agressões aos jornalistas e muitos tumultos. Os liberais radicais e seus jornais foram os principais alvos. Como conseqüência, o jornal “Malagueta Extraordinária”, de Augusto May, criticou a falta de liberdade da imprensa e o abuso de autoridade do governo. Porém, recebeu muitas ofensivas por resposta, inclusive vulgares, e, não bastando isto, foi espancado violentamente em sua própria casa. Os jornais não davam trégua aos portugueses, embora a Assembléia Constituinte e o imperador fizessem parte do maior palco de atritos.

C
om o espancamento do jornalista David Pamplona, a situação tornou-se mais grave. D. Pedro I, então, dissolveu a Assembléia Constituinte, dando força à imprensa. Cipriano Barata foi o jornalista que mais se destacou na época, que foi caracterizada pela participação de grandes escritores, dentre eles, alguns dos maiores autores da literatura brasileira. Em 1857, “O Diário do Rio de Janeiro” publicou “O Guarani”, série de incrível sucesso. Após a independência e alguns fatos subseqüentes, a imprensa brasileira que teve um grande desenvolvimento após a chegada da família real ao Brasil, conseguiu evoluir gradativamente ao passar dos anos.

Pode-se dizer que depois do período de turbulência logo após a independência, a imprensa só voltaria a ter um pouco mais de repressão na época do golpe militar de 1964. Assim pode-se concluir que a chegada da família real ao Brasil não só no campo da imprensa, mas como em todos os campos teve em bom desenvolvimento.


História da imprensa no Brasil
Postado pelo Aluno Thiago

SAÚDE – Alimentação e Higiene à época de Dom João VI

Alimentação


Sabemos que os hábitos dos brasileiros sofreram muitas mudanças com a transferência da Família Real Portuguesa para o país em 1808. O Estilo europeu de viver tornou os costumes mais cosmopolitas e como já vimos se refletiram nas vestimentas mas também à mesa, na higiene, no saneamento, na forma de convivência entre as pessoas e até mesmo na decoração das casas. Os hábitos alimentares igualmente sofreram grande influência da corte portuguesa no Rio de Janeiro. Começaram a aparecer as delícias da culinária européia e o cardápio começou a sofrer transformações. Por isso, podemos dizer que hoje a gastronomia brasileira é uma das mais ricas do mundo, porque, além de utilizar a imensa variedade de alimentos disponíveis no Brasil, muitas plantas ainda foram importadas da Europa e de outras regiões do mundo e se adaptaram perfeitamente às nossas condições climáticas. O Brasil, assim, se tornou um dos países mais ricos do mundo no âmbito gastronômico.

Os hábitos alimentares da Família Real Portuguesa

Muitos já ouviram falar do apreço de Dom João VI pelo consumo, em uma única refeição, de três frangos e uma seqüência de cinco mangas, descascadas por ele. Mas e sobre as preferências gastronômicas dos outros membros da família imperial? Chega às livrarias para a comemoração dos duzentos anos da vinda da Família Real para o Brasil, um livro sobre os hábitos alimentares de diversas personagens como dom Pedro I e a princesa Isabel. Editada pela Jorge Zahar, a obra é resultado de uma pesquisa feita pela historiadora portuguesa, Ana Roldão, gerente de negócios do Museu Imperial de Petrópolis, e escrita juntamente com o jornalista Edmundo Barreiros. "Acompanha toda a trajetória do Brasil Império. Começa conosco, lá em Portugal, e segue a Família Real até aqui. Não será um livro científico, e sim uma obra romanceada em cima de fatos históricos", diz Roldão, em entrevista à Folha. “Quando abri o bistrô, Petit-Palais, na propriedade onde fica o museu, as pessoas perguntavam: Tem comida do imperador? O que dom Pedro I comia? E a princesa Isabel?'. Eu não fazia a menor idéia do que comiam.” Devido às perguntas que se tornavam cada vez mais freqüentes, a historiadora decidiu pesquisar através de documentos históricos, de anotações dos mordomos da família (sobre a aquisição de insumos para a casa imperial), de cadernos de ucharia (que relacionam os itens da dispensa), de livros portugueses de receitas do século dezenove, de menus escritos, de cardápios de viagens e da correspondência, principalmente, da princesa Isabel. "Tem pouca coisa escrita sobre a alimentação deles, mas o material gráfico é rico, há uns menus bonitos", diz. Entre as curiosidades do livro com título provisório de "Banquetes Reais", está a predileção da princesa Isabel pelos doces de ovos e sorvetes. "Há uma forte influência portuguesa no gosto dela. É alucinada por todos esses doces portugueses. Adora pão-de-ló, chá. É uma figura bem rica para trabalhar com alimentação, pois fala muito de comida", diz a historiadora. "Reclama do jejum que tem de fazer na Quaresma, diz que não agüenta mais o peixe em lata e as batatas cozidas." A autora também ressalta Dom João VI. "Vou reproduzir no livro um documento em que ele conta dos três 'frangãos', não frangões, que comia. Menciona o cozinheiro dele, Alvarenga, dizendo que ninguém sabia prepará-los como ele." Ainda que grande parte dos produtos consumidos pela família viessem de fora (amêndoas, lebres, pistache, chá), coube a dom João VI introduzir ingredientes brasileiros na dieta alimentar da família, especialmente na família dele, caso da manga (de Itu) e da goiaba. A respeito de Carlota Joaquina, temos que a quantidade de cachaça que encabeça a lista de compras da cozinha do palácio onde ela vivia era enorme. Segundo Ana Roldão, na Torre do Tombo, em Lisboa, um documento indica que eram consumidas muitas unidades de aguardente de cana por mês, a maioria destinada ao quarto e à cozinha de Carlota. Ela tomava aguardente misturada com sucos de frutas frescas, pois sofria demais com o calor brasileiro. Tinha necessidade de hidratar o corpo.No câmbio de informações, podemos notar que a alimentação das mulheres era carregada nos doces, o que explica, porque a aguardente era usada para conservar compotas de fruta. Já Dona Leopoldina, quando veio para o Brasil, em 1817, casar com dom Pedro I, trouxe na bagagem um carregamento de repolhos, salmões salgados, carne de porco e feijão-verde. E Dom Pedro I não dispensava um bom prato de arroz com feijão. Ana diz ter descoberto por suas pesquisas que ele preferia fazer as refeições na cozinha a comer na sala de jantar. Tem um lado, não só aquele fervoroso de amantes e tal, mas humano, de estar com as pessoas do povo. Era o 'garoto das cavalariças'. Um dos relatos engraçados levantados pela historiada trata de um dia em que Pedro I, já imperador, foi cavalgando a uma fazenda e chegou lá antes da comitiva. "Sem se identificar, entrou pela cozinha e disse à cozinheira que estava com muita fome. E ela: 'Ó moço, posso dar algo simples, porque estou esperando o imperador'. Ofereceu-lhe arroz, feijão, carne e aguardente. Quando o dono da fazenda entrou, viu o imperador sentado na cozinha, tomando cachaça, comendo a comida dos empregados e rindo."

Aqui vai uma receita do livro "Cozinheiro Imperial"

Corte o miolo de pão em bocados redondos ou quadrados, da grossura de dois ou três dedos. Passe-o, rapidamente, por um molho de vinho branco da Madeira (ou qualquer outro vinho branco). Depois de escorridos, passe-o por ovos batidos e frite em óleo quente até ficarem dourados. Sirva com calda de vinho e açúcar, ou do licor desejado.

Saúde Pública e Higiene


O Rio de Janeiro enfrenta graves problemas de saúde pública em pleno Século XXI, mas isso não é simplesmente uma conseqüência do progresso, com a expansão imobiliária e o inchaço da metrópole, hoje com milhões de habitantes. Antes mesmo da chegada da Família Imperial Portuguesa, o Rio de Janeiro já sofria com dificuldades de saneamento básico que culminavam com epidemias terríveis. No período não existiam, na colônia, médicos especializados em todos os tipos de doenças, trabalho que acabava sendo exercido por pessoas desqualificadas para a função, como por exemplo, os religiosos e os barbeiros. A medicina era precária e engatinhava: como vimos, começou realmente a se estabelecer no Brasil com a vinda de D. João VI. O saneamento básico das cidades era muito deficiente. Os hábitos de higiene da população eram incompatíveis com as normas conhecidas de "saúde pública". O número de médicos aumentou com a chegada da Família Imperial, mas o atendimento era privilégio da corte e das famílias mais abastadas da época. Verdadeiramente, muitos fatores contribuíam para que os portugueses - mais vulneráveis às condições climáticas e higiênicas do país - contraíssem algum tipo de doença. Os nobres eram enterrados nas igrejas, sem quaisquer tipos de preparação ou cuidados com o acondicionamento dos corpos, o que também aumentava a possibilidade de se alastrarem diversas epidemias.

Contudo, a principal mudança teria que acontecer mesmo no sistema de saúde da colônia, pois as condições eram calamitosas. As doenças de pele alastravam-se, bem como as doenças pulmonares, venéreas e uma série de outras viroses, decorrentes da miscigenação que se iniciava no Brasil. Em 1808, das 60 mil pessoas que habitavam a colônia, 20 mil eram trabalhadores da saúde e eram conhecidos como "barbeiros". Com o aumento do número de médicos, foram formadas em território brasileiro as primeiras turmas de profissionais. Os principais focos de doença não foram dizimados e o saneamento básico continuou precário até o final do século, sendo efetivado a partir de 1860. A saúde foi o órgão público que menos modificações sofreu nesse período. D. João VI, entretanto, com toda a sua determinação, conseguiu mudar a estrutura como um todo, firmando as primeiras bases do sistema de saúde pública brasileiro. Em meados de 1821, quando resolveu retornar para Portugal, a cidade já se encontrava urbanizada e bonita e aqui viviam mais de 112 mil pessoas, entre elas, 55 mil escravos. Não é de se estranhar que mesmo com o "empenho" de Dom João, as doenças só foram amenizadas mesmo em fins do século XIX, afinal, jamais foi interesse sincero de Dom João melhorar as condições sanitárias e de atendimento médico ao povo. A criação do Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e da Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro se deram muito mais para atender às necessidades da própria corte.

No aspecto saúde, houve muitas outras pessoas no Brasil que fizeram mais no âmbito público.Foi no primeiro governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que houve a primeira medida sanitarista no país. O Rio de Janeiro não tinha nenhum saneamento básico e, assim, várias doenças graves como varíola, malária, febre amarela e até a peste espalhavam-se facilmente. O presidente então nomeou o médico Oswaldo Cruz para dar um jeito no problema. Numa ação policialesca, o sanitarista convocou 1.500 pessoas para ações que invadiam as casas, queimavam roupas e colchões. Sem nenhum tipo de ação educativa, a população foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituição de uma vacinação anti-varíola. A população saiu às ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz acabou afastado.

Folha online-Hábitos alimentares da Familia Real Portuguesa

How Stuff Works-História da saúde pública no Brasil


TEXTO ESCRITO PELA ALUNA GEORGIA

SOB OLHOS FEMININOS

Mulheres cotidianas e mulheres da corte. Elas tiveram sim, importante papel à época de Dom João VI. Em se tratando dos ambientes luxuosos, além de Carlota Joaquina, a corte foi freqüentada por mulheres nobres, cientistas, diplomatas, viajantes. Afora da riqueza, simples aventureiras, vieram para o Brasil. Relatos sobre todas elas são hoje documentos preciosos para a história brasileira. No começo do século XIX, o país era o último grande pedaço habitado do planeta ainda inexplorado pelos europeus que não fossem portugueses. Até então mantida fechada e isolada do restante do mundo, a antiga colônia era, aos olhos dos estrangeiros, um território misterioso e repleto de lendas sobre índios canibais, natureza exótica e imensos tesouros no subsolo. A chegada da corte e a abertura dos portos mudaram esse cenário e produziram uma invasão estrangeira como jamais se tinha visto.

HISTÓRIAS DE DUAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL DO INÍCIO DO SÉCULO XIX

Em 1817, Rose Marie de Freycinet tinha 25 anos e era casada com o naturalista e oficial da marinha francesa Luis Claude de Soulces de Freycinet. Por essa época soube que o marido acabara de receber o comando de uma missão que o manteria dois anos distante do lar. No comando da corveta Uranie, Luis Claude daria a volta ao mundo conduzindo uma missão científica que tinha o objetivo de explorar a América do Sul, as ilhas do Pacífico Sul, a Índia e a costa da África. Rose Marie, triste e assustada com a notícia, tomou uma atitude no mínimo corajosa: cortou os cabelos, enfaixou os seios e, disfarçada de homem, embarcou clandestinamente no navio na véspera da partida. Na época, a presença de mulheres era proibida nas embarcações da marinha francesa. Rose Marie correria o risco de ser presa e deportada de volta para casa no primeiro porto, no entanto, com sorte, tudo correu muito bem para ela. No dia seguinte, já em alto-mar, ela se apresentou ao marido que, sem alternativa, reuniu os oficiais e comunicou que a esposa estava a bordo. Em vez de puni-la, todos a cumprimentaram e deram as boas-vindas. Rose Marie e Luis Claude chegaram ao Rio de Janeiro em dezembro do mesmo ano. Ela constatou a beleza do Brasil, mas também realizou anotações de profunda crítica:“Pena que um país tão lindo não seja colonizado por uma nação ativa e inteligente”, escreveu, referindo-se a Portugal. “Os brasileiros se destacam pela abundância, mais do que pela elegância do serviço”, anotou num outro trecho.

A inglesa Maria Graham também visitou o Brasil em companhia do marido em um navio da marinha, mas, no seu caso, a viagem terminou em tragédia. Chegou, em 1821, na fragata Doris, comandada pelo marido, o capitão Thomas Graham. Esteve em Olinda, Recife, Salvador e aportou ao Rio de Janeiro pouco depois do retorno da corte portuguesa a Lisboa, a tempo de testemunhar o famoso Dia do Fico (9 de janeiro de 1822), em que d. Pedro, então príncipe regente, decidiu permanecer no Brasil, recusando-se a acatar as ordens das cortes portuguesas para que retornasse a Lisboa. Do Brasil, o casal seguiu para o Chile, mas o capitão Graham morreu logo depois de cruzar o Estreito de Magalhães. Viúva aos 36 anos, Maria continuou sozinha até Santiago, onde testemunhou também a independência do Chile. Depois retornou ao Brasil, onde foi tutora dos filhos de D. João I e da princesa Leopoldina. Seus relatos sobre o Brasil, publicados em 1824 sob o título “Journal of a voyage to Brazil, and residence there, during parts of the years 1821, 1822 e 1823”, são considerados pelos historiadores documentos de valor inestimável.

MODA A LA DOM JOÃO – A expressão do espírito e das aspirações das mulheres do Brasil de Dom João VI através da indumentária.


A exposição “Mulheres Reais – Modas e Modos no Rio de Dom João VI”, inaugurada no dia 27 de maio, estará até o dia 06 de julho apresentando ricamente informações sobre a indumentária das mulheres brasileiras no período em que a Família Real esteve no Brasil, e seus usos, como uma importante manifestação cultural e social do Rio de Janeiro, enquanto a cidade foi capital do império português. Os trajes e acessórios estão sendo expostos em 900m² cobertos com tecido na belíssima Casa-França -Brasil – primeira alfândega do Rio projetada por Grandjean de Montigny, integrante da Missão Artística Francesa acolhida por D. João VI, que incitou muitas transformações culturais, políticas e econômicas na cidade do Rio de Janeiro e no país. Adiante abordaremos com mais intensidade a Missão Artística Francesa.
Trajes e acessórios originais do Museu Nacional do Traje de Lisboa, do Museo del Traje de Madrid e do Wien Museum - Mode Depot de Viena, e jóias de escravas do acervo do Museu Costa Pinto de Salvador integram o conteúdo museológico e representativo da exposição, mostrando e exaltando as diferenças de negras e brancas de dois séculos atrás que compõe hoje a mulher brasileira. Os figurinos e recriações, um permitem descobrir as mulheres reais, transcendendo o estereótipo e a anedota, venerando a riqueza, descobrindo as angústias das mulheres do período.
É importantíssimo ressaltar que as mulheres reais não são apenas as da realeza - rainhas da Casa de Bragança-, mas também aquelas que ajudaram a construir hábitos e costumes da sociedade urbana carioca em formação no período joanino, tanto as mulheres de colonos protegidas por suas mantilhas, quanto as africanas escravizadas – despojadas e sensualmente vestidas, únicas a circularem livremente pelas ruas e praças do pacato, prudente e pudoroso povoado coloni
al.
Na exposição tam
bém foi feita a recriação das modas e dos modos das mulheres através de figurinos de D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina, o que permitiu uma aproximação da verdadeira aparência dessas mulheres, muito diferente das representações caricaturais. A exposição enaltece o íntimo de cada uma delas para revelar a Maria, que não foi apenas piedosa e louca, a Carlota, que está além da feiúra e da intriga, e a Leopoldina, que não se limitou ao papel de mulher-mártir.
As relações femininas com o poder também são desveladas em três mulheres que governam, D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina. Os figurinos inspirados nos retratos oficiais dessas rainhas constituem a narrativa da passagem do Antigo Regime para o Império, e proporcionam a percepção das mudanças políticas e econômicas na cultura e nas transformações da moda – o aparato dos trajes monárquicos, fortemente marcados pelo barroco, dão lugar às linhas simplificadas do neoclássico.
Protagonistas da construção da realidade social cotidiana durante a permanência da corte portuguesa no Rio de Janeiro, as mulheres do dia-a-dia são reveladas na diversidade dos trajes e trejeitos expressos na criatividade das curadoras da exposição, a escritora Cláudia Fares e a figurinista Emília Duncan, que resgatam, inclusive, a influência das cores das obras de Debret no universo feminino contemporâneo.

As mulheres da realeza e as mulheres da realidade são diferentes nas modas e nos modos, mas guardam nas suas histórias uma mesma identidade. Ricas ou pobres, escravas ou esposas de colonos, brancas ou negras, rainhas ou trabalhadoras, todas, sem exceção, tiveram que deixar seus territórios físicos e simbólicos e reconstruir no Brasil suas identidades, suas histórias, reinventando a cultura carioca e brasileira.

A exposição oferece a oportunidade de nos perguntarmos: quantas mulheres de Debret ainda percorrem as nossas ruas?

A RELEITURA E ADAPTAÇÃO DOS TEXTOS FORAM FEITAS PELA ALUNA GEORGIA

A ARTE OBSTETRÍCIA E O ABORTO

O texto a seguir é uma síntese que fiz da leitura de uma interessante pesquisa sobre a medicina obstétrica que foi feita através da revisão de 83 teses médicas obstétricas — produzidas tanto na Bahia quanto no Rio de Janeiro — no século XIX.

A Arte Obstétrica surgiu no Brasil no século XIX, quando, por edital de Dom João VI, é incluída nas disciplinas que inauguram as escolas de medicina e cirurgia, na Bahia e Rio de Janeiro, em 1808. Até o momento, os partos eram realizados por mulheres chamadas de aparadeiras ou de comadres. Estas detinham um saber empírico apenas e assistiam, auxiliavam as mulheres, seja no trabalho de parto e nos cuidados de
gestação e puerpério, quanto em outras circunstâncias, tais como doenças venéreas e abortos, além de contribuírem muitas vezes com o infanticídio. Na sua maioria, eram mulatas ou brancas e portuguesas e pertenciam aos setores populares. A introdução dos médicos-parteiros nesta prática deu início, não somente à investigação do corpo feminino, como também e curiosamente a produção de um saber anatômico e fisiológico da mulher, sob o olhar masculino. Historicamente, o processo da arte obstétrica se deu primeiro na Europa (nos séculos XVII e XVIII) se estendendo ao Brasil, ao se inaugurar as escolas de medicina e cirurgia na Bahia e Rio de Janeiro, em 1808. Desde o momento em que foi elaborada, esta arte centra seus estudos no parto (posteriormente sobre a gravidez) dentro do enfoque biológico, por forte influência da anatomia patológica. O discurso anátomo-patológico permitia a interrupção da gravidez, pelo parteiro (ou médico-parteiro) desde que algum sinal anatômico indicasse risco de vida para a mulher.


Diversos tratamentos terapêuticos também foram testados e analisados, inclusive aqueles indicados pelas comadres. Assim, a prática obstétrica do período incorporou infelizmente muitas das técnicas bárbaras que eram utilizadas para a interrupção de uma gravidez.


Estes métodos abortivos foram denominados de primeira classe:
1 — Centeio espigado
2 — Sangria
3 — Aplicação de sanguessugas (sugar a parte interna das coxas ou mesmo da vulva)
4 — Purgativos
5 — Diuréticos
6 — Excitantes (por exemplo, preparação de canelas)
7 — Eletro galvanismo.

Mais tarde, inclusive, Madame Durocher critica o conhecimento das aparadeiras sobre o centeio e o uso que as mesmas fazem dele nos trabalhos de aborto (Durocher, 1887). Em todas as teses defendidas por Durocher nas escolas de medicina, salvar a vida da mulher era o objetivo fundamental. N que a isso tange, o Dr. Ermínio Cézar Coutinho, da Faculdade de Medicina da Bahia, em novembro de 1858, defendendo teses sobre "Quais as circunstâncias que justificam a provocação ao aborto", o autor afirma que o aborto que possa vir colocar em risco de vida a mulher deve ser completamente rejeitado (refere-se aos casos em que a mulher esteja muito fraca e haja impedimento anatômico à gravidez — Coutinho, 1858).

Desde 1840 se percebe uma maior preocupação para questões tais como sexualidade, higiene e moral feminina. Com a chegada da Corte Portuguesa no Brasil, em 1808, ocorreu a implantação do ensino oficial de Medicina.
A primeira escola foi implantada na Bahia e decorreu de um pedido do Barão de Goyana — José Correia Picanço — que falou a D. João VI da necessidade de se criar um colégio de cirurgia.


Este concordou com a idéia e, em Carta Regia de 18 de fevereiro de 1808, assinada por D. Fernando José de Portugal, Ministro do Reino, foi determinado que Picanço fizesse o plano do curso e que escolhesse entre os cirurgiões do Hospital Militar os professores que deveriam ensinar não só Cirurgia, mas também Anatomia e Arte Obstétrica (Souza, 1967).

A segunda escola a ser autorizada por D. João VI foi a do Rio de Janeiro; isso se deu devido à sua mudança para lá no mês de fevereiro de 1808. Entre as várias medidas administrativas importantes tomadas por D. João estava o ensino médico. Pelo decreto de 5 de novembro de 1808 criou-se a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro.

Até 1815, o ensino na Bahia continuava como antes, lecionavam-se apenas Cirurgia e Anatomia e, apesar da resolução de D. João VI, que ordenava o ensino da Arte Obstétrica, Picanço não fez qualquer referência à Obstetrícia até essa data. O plano de estudos feito por Dr. Manuel Luiz Álvares de Carvalho é implantado na Bahia em 17 de março de 1816. Neste ano, a instalação da escola passa para a Santa Casa. No novo currículo constava que, para o quarto ano, o Prof. Manuel da Silveira Rodrigues lecionaria Instruções Cirúrgicas e Obstetrícia e, no quinto ano, José Avelino Barbosa ensinaria Medicina Prática e Obstetrícia. O curso, inicialmente, foi superficial, pois a escola precisava de uma enfermaria ou serviço clínico para mulheres grávidas e parturientes em que se pudesse fazer o ensino prático da matéria que se se ensinava.


As faculdades passaram a conceder os títulos de doutor em Medicina, de farmacêutico e de parteira, sem os quais ninguém podia exercer atividades em qualquer dos ramos da arte de curar. É em 1832 que tem início o ensino oficial de Obstetrícia para mulheres, nas duas primeiras faculdades médicas. Na do Rio de Janeiro, diplomou-se em 1834 a mais célebre das parteiras, francesa de nascimento, Maria Josefina Matilde Durocher (1808-93), que era conhecida como Madame Durocher. Foi a primeira mulher membro titular, na Academia Imperial de Medicina, em 1871.

Em 1873, para o autor da Memória deste ano, o professor Matias Sampaio assim se expressou: Animado pelo mais ardente desejo, e sem ter arrefecido ainda na carreira do ensino, empenho todo o esforço de que disponho para que os estudantes se habilitem na arte de partejar; apesar do meu empenho, confesso que apenas eles adquirem conhecimentos teóricos por nos faltar ainda o ensino prático, falta sentida e contra a qual têm reclamado quase todos, senão todos os historiadores de ambas as Faculdades de Medicina do Império. Entretanto, tenho fé que um dia virá em que semelhante falta desaparecerá, dotando-nos o governo Imperial ao menos com uma pequena sala, onde sejam recebidas as parturientes (Souza, 1967).

Um obstáculo a ser superado pelos médicos na época era conseguir levar à clínica, ao hospital, ao consultório a mulher ou, também, pode-se dizer, o corpo feminino. Houve um grande esforço por parte da corporação médica em construir uma imagem do médico que inspirasse confiança na população, que era repleta de pudores. Porém, isto ainda foi pouco para conseguir levar as mulheres à presença do obstetra. Com esse impasse, o discurso médico criou como que um "jogo" com a população feminina do Brasil Império. Jogo, porque, por um lado, o discurso médico, em harmonia com os demais discursos presentes no momento, utilizando as estratégias que lhe eram permitidas pelas circunstâncias, forjou para a mulher uma nova subjetividade, que, entre as alterações imediatas que possibilitou a esta, garantiu-lhe um novo papel na sociedade, abrindo-lhe as portas para uma vida social mais intensa, esboçando-lhe nova configuração dentro do lar, da família, tornando-a, enfim, um ser bem mais vivo que a mulher da sociedade patriarcal da colônia.

Entretanto, o ponto de apoio deste discurso que criou a mulher da sociedade imperial foi a sexualidade feminina. Sexualidade que foi descrita a fundo, com acurada precisão fazendo a mulher um ser frágil e inconstante, a quem somente os médicos poderiam orientar, por serem os únicos que a conheciam. Deste "jogo" surgiram "o mito do amor materno", a "mãe dedicada", "boa esposa", "a rainha do lar", as histéricas, as mundanas e toda uma série de tipos femininos que ocupariam a literatura médica e o imaginário social do século XIX. A mulher criada no século XIX, que povoou as páginas do romance nacional, destacava-se pela sua fragilidade.

Começaram a ser aplicados os discursos moralistas e filantrópicos sobre o aleitamento materno, cujas primeiras destinatárias eram as mulheres das famílias abastadas, que continuavam possuindo empregadas com a função de amas-de-leite; sobre o abandono infantil, parcialmente explicado pelo desejo egoísta e narcisista destas em manter o corpo belo, de conservar a forma estética e pelo medo de perder o marido, a exemplo dos aristocratas franceses; sobre o infanticídio disfarçado pelas comadres (curiosas); e sobre a prática do aborto.

Enquanto decorria este processo, as prescrições médicas de aborto foram sendo reduzidas extremamente ao essencial. Verificamos que no início do século XIX a arte obstétrica priorizava a vida da mulher ao menor sinal de perigo, e as "novas" técnicas alcançadas (fórceps e cesariana) possibilitaram que o discurso fosse modificado. Atualmente se dá prioridade para que o processo finalize com uma mãe e filho sadios.

Scielo- História da Parturição séc. XIX
http://www.ipas.org.br/arquivos/Lago_Berquo_2003.doc
BRIQUET, R. Obstetrícia normal. São Paulo, Ed. São Paulo,
1971.

TEXTO ESCRITO PELA ALUNA GEORGIA