Mulheres cotidianas e mulheres da corte. Elas tiveram sim, importante papel à época de Dom João VI. Em se tratando dos ambientes luxuosos, além de Carlota Joaquina, a corte foi freqüentada por mulheres nobres, cientistas, diplomatas, viajantes. Afora da riqueza, simples aventureiras, vieram para o Brasil. Relatos sobre todas elas são hoje documentos preciosos para a história brasileira. No começo do século XIX, o país era o último grande pedaço habitado do planeta ainda inexplorado pelos europeus que não fossem portugueses. Até então mantida fechada e isolada do restante do mundo, a antiga colônia era, aos olhos dos estrangeiros, um território misterioso e repleto de lendas sobre índios canibais, natureza exótica e imensos tesouros no subsolo. A chegada da corte e a abertura dos portos mudaram esse cenário e produziram uma invasão estrangeira como jamais se tinha visto.
HISTÓRIAS DE DUAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL DO INÍCIO DO SÉCULO XIX
Em 1817, Rose Marie de Freycinet tinha 25 anos e era casada com o naturalista e oficial da marinha francesa Luis Claude de Soulces de Freycinet. Por essa época soube que o marido acabara de receber o comando de uma missão que o manteria dois anos distante do lar. No comando da corveta Uranie, Luis Claude daria a volta ao mundo conduzindo uma missão científica que tinha o objetivo de explorar a América do Sul, as ilhas do Pacífico Sul, a Índia e a costa da África. Rose Marie, triste e assustada com a notícia, tomou uma atitude no mínimo corajosa: cortou os cabelos, enfaixou os seios e, disfarçada de homem, embarcou clandestinamente no navio na véspera da partida. Na época, a presença de mulheres era proibida nas embarcações da marinha francesa. Rose Marie correria o risco de ser presa e deportada de volta para casa no primeiro porto, no entanto, com sorte, tudo correu muito bem para ela. No dia seguinte, já em alto-mar, ela se apresentou ao marido que, sem alternativa, reuniu os oficiais e comunicou que a esposa estava a bordo. Em vez de puni-la, todos a cumprimentaram e deram as boas-vindas. Rose Marie e Luis Claude chegaram ao Rio de Janeiro em dezembro do mesmo ano. Ela constatou a beleza do Brasil, mas também realizou anotações de profunda crítica:“Pena que um país tão lindo não seja colonizado por uma nação ativa e inteligente”, escreveu, referindo-se a Portugal. “Os brasileiros se destacam pela abundância, mais do que pela elegância do serviço”, anotou num outro trecho.
A inglesa Maria Graham também visitou o Brasil em companhia do marido em um navio da marinha, mas, no seu caso, a viagem terminou em tragédia. Chegou, em 1821, na fragata Doris, comandada pelo marido, o capitão Thomas Graham. Esteve em Olinda, Recife, Salvador e aportou ao Rio de Janeiro pouco depois do retorno da corte portuguesa a Lisboa, a tempo de testemunhar o famoso Dia do Fico (9 de janeiro de 1822), em que d. Pedro, então príncipe regente, decidiu permanecer no Brasil, recusando-se a acatar as ordens das cortes portuguesas para que retornasse a Lisboa. Do Brasil, o casal seguiu para o Chile, mas o capitão Graham morreu logo depois de cruzar o Estreito de Magalhães. Viúva aos 36 anos, Maria continuou sozinha até Santiago, onde testemunhou também a independência do Chile. Depois retornou ao Brasil, onde foi tutora dos filhos de D. João I e da princesa Leopoldina. Seus relatos sobre o Brasil, publicados em 1824 sob o título “Journal of a voyage to Brazil, and residence there, during parts of the years 1821, 1822 e 1823”, são considerados pelos historiadores documentos de valor inestimável.
MODA A LA DOM JOÃO – A expressão do espírito e das aspirações das mulheres do Brasil de Dom João VI através da indumentária.
A exposição “Mulheres Reais – Modas e Modos no Rio de Dom João VI”, inaugurada no dia 27 de maio, estará até o dia 06 de julho aprese

Trajes e acessórios originais do Museu Naci

É importantíssimo ressaltar que as mulheres reais não são apenas as da realeza - rainhas da Casa de Bragança-, mas também aquelas que ajudaram a construir hábitos e costumes da sociedade urbana carioca em formação no período joanino, tanto as mulheres de colonos protegidas por suas mantilhas, quanto as africanas escravizadas – despojadas e sensualmente vestidas, únicas a circularem livremente pelas ruas e praças do pacato, prudente e pudoroso povoado coloni

Na exposição também foi feita a recriação das modas e dos modos das mulheres através de figurinos de D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina, o que permitiu uma aproximação da verdadeira aparência dessas mulheres, muito diferente das representações caricaturais. A exposição enaltece o íntimo de cada uma delas para revelar a Maria, que não foi apenas piedosa e louca, a Carlota, que está além da feiúra e da intriga, e a Leopoldina, que não se limitou ao papel de mulher-mártir.
As relações femininas com o poder também são desveladas em três mulheres que governam, D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina. Os figurinos inspirados nos retratos oficiais dessas rainhas constituem a narrativa da passagem do Antigo Regime para o Império, e proporcionam a percepção das mudanças políticas e econômicas na cultura e nas transformações da moda – o aparato dos trajes monárquicos, fortemente marcados pelo barroco, dão lugar às linhas simplificadas do neoclássico.
Protagonistas da construção da realidade social cotidiana durante a permanênc
ia da corte portuguesa no Rio de Janeiro, as mulheres do dia-a-dia são reveladas na diversidade dos trajes e trejeitos expressos na criatividade das curadoras da exposição, a escritora Cláudia Fares e a figurinista Emília Duncan, que resgatam, inclusive, a influência das cores das obras de Debret no universo feminino contemporâneo.
As mulheres da realeza e as mulheres da realidade são diferentes nas modas e nos modos, mas guardam nas suas histórias uma mesma identidade. Ricas ou pobres, escravas ou esposas de colonos, brancas o
u negras, rainhas ou trabalhadoras, todas, sem exceção, tiveram que deixar seus territórios físicos e simbólicos e reconstruir no Brasil suas identidades, suas histórias, reinventando a cultura carioca e brasileira.
Protagonistas da construção da realidade social cotidiana durante a permanênc

As mulheres da realeza e as mulheres da realidade são diferentes nas modas e nos modos, mas guardam nas suas histórias uma mesma identidade. Ricas ou pobres, escravas ou esposas de colonos, brancas o

A exposição oferece a oportunidade de nos perguntarmos: quantas mulheres de Debret ainda percorrem as nossas ruas?
A RELEITURA E ADAPTAÇÃO DOS TEXTOS FORAM FEITAS PELA ALUNA GEORGIA
2 comentários:
Orbigado por utilizar o nosso portal como base de consulta. Estejam sempre à vontade para pesquisar! (Fabiano Marçal)
Excelente texto. Mas façam referência sobre sua fonte de origem, caso os internautas queiram saber de mais detalhes, e também como homenagem aos autores que muito pesquisaram o nosso passado, de cujo conhecimento tanto necessitamos.
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